domingo, 19 de julho de 2015

Gato e rato, de Günter Grass



Já faz alguns dias que coloquei este livro no canto do blog como "Lendo", só que só fui pegá-lo para ler hoje. Comecei a lê-lo antes, mas as primeiras cinco páginas me pareceram muito morosas e parei. Como se eu não conhecesse Grass; como se eu não soubesse o quanto é estúpido não confiar em um livro de Grass. Pois retornei, ou comecei realmente Gato e rato, hoje, domingo, por volta das três da tarde, e faz meia hora que terminei a leitura. Estava na biblioteca aqui de casa e chorava copiosamente diante as últimas páginas. Como se vê, é um livrinho que se lê em um dia. Uma obra-prima tocante, sensível, verdadeira, dolorosa, profunda, de uma beleza típica de Grass, uma beleza desconcertante e impactuosa. Não há como não considerar Grass um gênio após a leitura desse livro. O cara morreu e não vejo reedições dele por aqui; não sei o que está acontecendo. Um romance como este deveria estar em reedição cuidadosa nas prateleiras, deveria ser alvo de resenhas e estudos. Talvez porque as tais cinco ou dez páginas morosas do começo peguem de um jeito ruim o leitor brasileiro, impossibilitando que ele tenha um deslumbramento diante a sublimidade da inigualável literatura de Grass. Desafio o leitor a ler este livrinho e sair dele ileso, sair dele sem uma lágrima mesmo que furtiva pelo canto do olho. Um livro inesquecível. Em uma consulta que fiz, neste exato momento existem 38 exemplares dele na Estante Virtual, com preços que variam de 6 reais a 40 reais_ comprei o meu por meros 5 reais. E é uma beleza de livrinho de bolso, charmosíssimo. Um preço muito pequeno para a quantidade de deleite que se obtém. 

18 comentários:

  1. Depois de ter lido "A ratazana" tendo em conta quanto sofri e me desesperei com o obra, nunca mais voltei a Gunter Grass, talvez esteja a perder algo de bom, o Nobel para mim não é seguro que vá voltar, depois do trauma.

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    1. Li A ratazana. Um livro estranho, o mais estranho e anti-comercial de Grass. Me impressionou muito e considero tê-lo entendido. Há um texto sobre ele aqui no blog, em algum lugar.

      Gato e rato é um outro tipo de romance; uma prosa mais normal. Tais livros assim me deixam muito emotivo. Agora a pouco, quando saía de carro, não parava de pensar nele, e de novo meus olhos se encheram de água. Não relutaria em colocá-lo entre os melhores livros que já li.

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    2. Errata: "agora há pouco".

      Programei para começar a biografia de Dostoiévski, mas vou adiar. Engatei já a leitura de Um campo vasto.

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  2. Do Gräss eu só o li "o tambor" e "a passo de caranguejo", do primeiro eu gostei muito e já sabia que estava diante de um clássico, e depois quando vi a biografia dele vi que de fato era um autor seminal para a compreensão do ser humano, já o segundo livro eu achei bem mediano e não lembro muito da história e o li muito tempo depois de "o tambor", eu tenho "a ratazana", e fico adiando a leitura dele pois descobrir que junto com "o tambor" e "o linguado" forma uma trilogia, então queria adquirir "o linguado" antes e reler "o tambor".

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    1. Se me permite corrigi-lo, Tiago, a trilogia de Dantzig é composta pelos livros "O tambor", "Gato e rato" e "Anos de cão". Antes de ler Gato e rato, fiz como você, reli O tambor. Esse ano pretendo reler Anos de cão. Gunte Grass é estupendo!

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    2. E os livros da trilogia são independentes entre si, podendo ser lidos fora de sequência.

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  3. Opa então ouvi 'o galo cantar e não sei onde foi", em todo caso mais dois livros para serem comprados.

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  4. Estou com o filme O Tambor no pc, preciso ler o livro urgente. Infelizmente, o livro encontra-se fora de catálogo atualmente. No entanto, tenho algumas prioridades no momento.

    Uma editora chamada Grua está publicando os livros do Kazantzákis aqui em terras tupiniquins. O primeiro a ser publicado foi Vida e Proezas de Aléxis Zorbás, uma obra que superou as minhas expectativas. Agora a editora publicou Capitão Mihális e A Última Tentação. Este último deve ser o próximo da fila, uma leitura que venho aguardando há tempos. Fica portanto a dica para o pessoal que frequenta o blog e pra você, Charlles, caso se interessem pelo autor, pois acho que não foi muito divulgado na imprensa. Desde que li um artigo traçando paralelos entre as obras de Kazantzákis e Lagerkvist com O Evangelho de Saramago venho aguardando suas respectivas publicações. Agora só falta uma boa alma publicar Barrabás do Pär Lagerkvist.

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    1. Ótima notícia! Reedições do Kazantzákis! Li dele a autobiografia, Testamento para El Greco (aliás, esta me salvou de um tédio colossal quando a encontrei, por milagre, em uma biblioteca em uma minúscula cidade em que trabalhei, há quase 20 anos), Zorba, o romance sobre São Francisco, e A última tentação de Cristo. Todos esses são magníficos. Considero o livro dele sobre Cristo um tanto superior ao do Saramago, assim como ao bom filme que o Scorcese fez dele (no filme, Satanás é uma menininha loira, no livro é um menino negro). Aliás, a Ùltima tentação é uma das melhores e mais bombásticas reflexões sobre Cristo. Devo muito do meu cristianismo a esse livro. Em sua auto-biografia, Kazantzákis diz que suas maiores influências são Cristo, Dostoiévski, Nietzsche, e seu amigo Zorba.

      Agradeço por essa informação, anônimo. Vou atrás destes livros. É uma excelente notícia mesmo.

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    2. O Evangelho Segundo Jesus Cristo foi muito importante para mim, Charlles. Uma das coisas que mais me emocionaram na literatura foi o Cristo humano em busca da compreensão da vida e dos desígnios de Deus, imaginado por um ateu convicto como Saramago. Foi acalentador descobrir aquele homem bom e martirizado pela dúvida, surgido da pena de um ateu, após anos de crise de fé na minha adolescência. Desde então, encontrei certa paz após o meu rompimento difícil com o catolicismo, tão latente na minha família. Eu devo muito ao Saramago.

      Estou ainda mais ansioso para conhecer o Cristo de Kazantzákis após estas considerações.

      E Charlles, Testamento para El Greco também foi reeditado, só que por outra editora, a Cassará, com o título Relatório ao Greco.

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    3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Agradeço ao anônimo pela informação do livro do Kazantzákis. E fiquei ainda mais curioso depois que o Charlles o comparou ao Evangelho, do Saramago. Sobre o Lagerkvist, vamos esperar. Barrabas é um livro excelente, maravilhoso, para quem gosta de romances que tratam do Cristianismo. Por ora, é se contentar com a edição publicada aqui no Brasil, nos anos 70, disponível em sebos.

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    1. A última tentação é espetacular, Marcos. O filme de Scorcese me deixou estupefato, quando o assisti aos meus 17 ou 18 anos, assim que causou aquela polêmica toda_ assisti-o no cine Cultura de Goiânia, naqueles ótimos tempos de iniciativas culturais de alto nível, em uma sessão gratuita. Saí desse filme ressaltando o meu cristianismo, nos moldes daquela ideia revolucionária_ um Cristo humano, intimado e ungido pelo céu_, e louco para ler o original do Kazantzákis. Era muito difícil conseguir o livro, mas o achei um um sebo, e o li em estado de êxtase. O livro começa bombasticamente, com uma procissão de gnomos e seres esotéricos de baixo escalão na hierarquia espiritual indo para o local de nascimento do bebê prometido. Genial, não é? Daí tudo segue em uma narrativa que aproxima mais o texto à literatura médio-oriental judaica, estilo Bashevis Singer, o que o filme adotou outro arranjo diferente. Lembro de um dos apóstolos escrevendo o rascunho do evangelho_ não sei se era João_, querendo ser jornalisticamente realista, e o anjo Gabriel aparecendo para ele mostrando como ele verdadeiramente tinha que narrar as cenas; ao que o evangelista retrucava ao anjo: "Mas não foi assim.", ao que o anjo respondia: "A verdade tem sete níveis."

      Kazantzákis foi um dos maiores escritores do século passado, mas foi enormemente subestimado. Encontrei uma explicação e uma confirmação das minhas suspeitas logo em um volume bem improvável, em Navegação de cabotagem, semi-auto-biografia do Jorge Amado, em que alguém ligado à Academia Sueca confessa ao escritor baiano que o Nobel não fora dado a ele e a Kazantzákis por uma política circunstancial de discriminação que vigorava_ vigora_ naquelas instâncias.

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  6. Para quem se interessar, meu amigo Luiz Ribeiro me convidou a experimentar uma conta no twitter:

    https://twitter.com/CharllesACampos

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    1. Só torço para que ficar elaborando as notinhas para o twitter não te roubem o tempo que tens para escrever aqui pro blog, e também os livros que todos nós estamos esperando...

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    2. Sem chance, Fabricio. É só um experimento.

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  7. Aproveito e deixo aqui o meu twitter handle também pra quem quiser me ler. Dessa feita um Luiz com mais protagonismo.
    @juntakadaveres

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  8. CARALHO CHARLLES CAMPOS NO TWITTER NAO PODE SEEEE QUE DIA SENHORES FICA CHARLLES NAO SAI DO TWITTER NAO PFVRRR

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