sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A Júlia e o blog vão fazer 6 anos



A Júlia com 1 ano, e a Júlia e o Eric


Eu sempre falo que comigo todos os clichês da redenção pela paternidade aconteceram. Eu só descobri o que é mesmo o amor depois de ter filhos; eu só descobri o que é a felicidade plena depois de ter filhos; eu só descobri o quanto devemos respeitar milimetricamente cada pessoa e todo mundo depois de ter filhos (porque todo mundo é filho de alguém); eu só entendi de forma profunda o quanto meus pais me amaram, e o quanto eu lhes dei motivos para preocupações, depois de ter filhos. A Júlia me mostrou que eu não poderia amar duplamente um ser como eu a amo, e aí veio o Eric e me provou que eu posso, porque amo os dois da mesma maneira e na mesma intensidade. Fico os olhando por horas, enternecido, carregado de orgulho e mágica por eu ter contribuído por tamanhas perfeições. Um dia um colega meu criticava para mim a "coragem" de um amigo dele em expor seu filho recém nascido no Facebook, porque o menino havia nascido com o lábio leporino, e eu, antes mesmo de me conter, respondi a ele me admirando o quanto ele era estúpido em falar algo assim, porque um filho meu poderia ser de qualquer jeito que eu sentiria absoluto orgulho dele. A primeira gravidez da minha esposa, a Dani, foi de altíssimo risco, e o médico nos dissera com sinceridade que o bebê poderia nascer com alguma deficiência. Eu amaria a Júlia mesmo se ela tivesse nascido um rabanete, e ela nasceu minúscula, murchinha, cabia quase na minha mão; nasceu com uma imensa fragilidade de forma que eu tinha receio em pegá-la e machucá-la sem ver. O dia que eu as trouxe_ a Dani e ela_ para casa, enfrentamos uma chuva intensa na estrada, e viemos ouvindo no carro todo tipo de música abençoada, Pink Floyd abençoado, Led Zeppelin abençoado, Van Morrison abençoado, porque eu dirigia em estado de graça vendo as duas lá atrás pelo retrovisor, o ratinho rosa que era a Júlia em volta em mantas dormindo no bebê conforto, e o olhar da Dani repetindo o meu com o brilho do êxtase, a descansada e vaidosa plenitude da maternidade e da paternidade. Nós sabíamos que nada de ruim poderia acontecer com a gente. Chegamos à casa antiga em que eu morava, minha casa de solteiro caindo aos pedaços, com a auto-suficiência aristocrática dos permanentemente saudáveis e felizes, e colocamos a Júlia no berço junto à nossa cama e ficamos babando em cima dela, a menininha que, aos 3 meses de gestação, a Dani recebera o prognóstico de que ela tinha uma margem pequena de chance de nascer. E agora ela estava ali, o milagre do qual nunca duvidamos (o milagre do qual eu tinha tanta certeza que nem cheguei a pedir a Deus). Cinco anos depois, o médico da Dani autorizou que tivéssemos mais um filho; em uma semana engravidamos e sentimos o mesmo deslumbramento da gravidez. E aí nasceu o Eric, uma bola grande e gorda que era fisicamente o oposto da irmã. Hoje ele já está esbelto e dando seus primeiros passinhos pela casa. Amanhã será a festa de aniversário de 6 anos dela. As avós estão em casa e mais uma turma de amigos e parentes. E a vida, a resiliência e a ausência de medo, o amor e a luz, são sempre maravilhosos.

8 comentários:

  1. Que lindeza, Charlles. Parabéns para a Julia e para o blog.

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  2. Charlles,

    Muito bonito post e homenagem a Julia e, por que não dizer, à Vida!
    Grande abraço e felicidades a todos os seus!!

    Marcos

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    1. Obrigado, Marcos! Felicidade a você e aos seus também! Forte abraço.

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  3. Fiquei hipnotizado com a primeira foto. Esse brilho no olhar, esse sorriso... imagino sua felicidade.
    Parabéns pelos filhos, incluindo o blog!

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