Sempre tive um forte preconceito contra Rimbaud. O que um adolescente pode escrever de legítimo? Desde então meu desprezo total por ele. Afora o magistral romance do Le Clézio, Quarentena, em que ele é um dos personagens, eu não tinha nenhum rastro dele na minha biblioteca. Então me chegou esse volume de suas obras completas, por obrigação contratual, e, por puro enfado, peguei-o para dar uma olhada essa manhã e comecei a ler Uma estação no inferno. Li todas as 40 páginas com os olhos cheios de lágrimas e o espírito cheio da euforia contestatória diante uma entidade antiga, que nada tinha de adolescente e nem tampouco de francesismos. Então isso é Rimbaud? Então esse "negro", esse "filho de Cam", como ele se define em uma das passagens, esse "ser de uma raça inferior", como ele de novo se mostra criticamente agregado aos excluídos da Terra, é o Rimbaud que por meio século eu ignorei? Essa alma transbordante de ternura, ódio celestial e amor humano!
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