Não me parece ser apenas sintomas da incompatibilidade com a contemporaneidade que advêm com a idade. É algo mais, e talvez seja preocupante: há uma enorme carência por autenticidade no mundo. Penso assim ao terminar de assistir ao novo Star Wars. Assisto-o com a minha filha de 5 anos; ela adora o robozinho, mas tudo o mais, assim como a mim, lhe distrai para outras coisas. Ela encara enfrentar o filme por uma segunda vez, na cópia bem definida, dublada e legendada, que um amigo baixou pela internet. E, de novo, o mesmo desinteresse. Star Wars é um produto astucioso construído para ficar nobremente acima de qualquer crítica. A isenção típica das mediocridades instituídas. Seu sucesso em ser imaculado é tanto que criticá-lo passa a ser ridículo. "Você levou tanto a sério a ponto de anunciar que não gostou?". É tão absurdo como criticar uma bebedeira de sábado à noite com os amigos. Aliás, o filme não é horrível, o que, em certa visão desconstrutivista, seria ótimo: Star Wars é apenas totalmente indispensável. Para mim foi difícil assisti-lo até o fim. Acabou que a Julia e eu conversamos sobre diversos assuntos enquanto a banalidade com uma das maiores bilheterias da história seguia seu curso. Há atmosferas histriônicas, criadas para o enaltecimento da plateia, que minha sempre reascendida em vão fé no bom gosto do homem comum supõe que a ardilosidade fora detectada, mas não; logo imagino que o simples reaparecimento do velho Harrison Ford em seu papel de Han Solo, de maneira absolutamente preguiçosa no filme, deva ter provocado um grito de comoção nas salas de cinema. Ou que o simples R2D2 esquecido em um canto da tela tenha gerado uma ola entre os expectadores. O roteiro é capenga, paupérrimo, abalizado pela certeza de que a força do produto já atingirá os píncaros financeiros. Poupemos a fadiga. São tantos clichês e aparecimentos propositadamente súbitos do velho elenco para despertar aplausos (meu Deus! é a princesa Leia!!!), que tudo é de uma comicidade involuntária constrangedora. E é aí a chave do problema: pouquíssimas pessoas percebem o humor involuntário. Dois bilhões em ingressos vendidos! Para algo deselegantemente raso, pois os produtores, roteiristas e diretores, não se preocuparam nem um pouco em fazer algo que tivesse a mínima profundidade e envolvimento. É como assistir, por duas horas e meia (a megalomania de estender uma sensaboria corriqueira e banal além do prazo fisiologicamente suportável, pela paradoxal imposição sádica de inventar que essa concentração devotada é mais uma reivindicação para o ingresso ao culto da coisa), a expressão áudio-visual do sabor da Coca-Cola, ou do Big-Mac.
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Uma refutação à teoria da conspiração de que o golpe em andamento no Brasil está sendo patrocinado pelos EUA. Um economista da revista Superinteressante escreveu em seu Facebook. Centenas de pessoas compartilhando. Os EUA não tem interesse no Pre-sal, ralé inculta! Segundo o economista, colaborador de décadas dessa revista, diz que os carros elétricos da Tesla já são campeões de vendas na Europa, o que atesta que o petróleo está em franca decadência. Economista da Superinteressante. Fiz uma pausa de desânimo após a sequência dessas duas últimas frases. Tudo bem! Tudo bem! Vivemos em um país que tem duas paixões nunca racionalizadas e transferidas com um poder assegurado de uma geração a outra: a paixão pelos altos diplomados acadêmicos, e pelo militarismo. As duas, aliás, difundidas em menor ou maior grau pelas corporações da mídia. Décadas de história em que a universidade era um avatar invejado e inalcançável pela grande maioria da população, todo "doutor" que aparecia na homilia de domingo à noite no Fantástico falando seja o que fosse, era comentado religiosamente por toda a semana. Se o doutor dizia, era algo incontestável. O militarismo, por sua vez, mostra o estigma na alma brasileira nas invocações do retorno dos quartéis e na vanglória estúpida da eficiência dos colégios militares. Daí ser fácil ver que alguém que professa a mais distorcida das profissões bastardas da filosofia, e que escreve para uma revista destinada ao protótipo do adolescente obtuso, consegue certo grau de notoriedade instantânea ao dizer que os carros elétricos estão suplantando de forma determinista os que consumem derivados do petróleo. Não, ninguém está nem aí para a maior reserva de combustível fóssil encontrada no mundo bem abaixo de nosso narizes. Não, nunca houve derrubada de governos e implantação de comoção social por um pouco que fosse de gás natural em outros países. Não há nenhuma prova exaustivamente documentada sobre o domínio dos EUA no governo dos países da América Latina, ao longo do século XX. Nunca existiu uma companhia vilipendiadora, assassina e cruel, chamada Fruit & Company, a Companhia Bananeira que aparece em metade dos livros de Garcia Marques e de outros escritores latinos. E mesmo assim, os zumbis da internet aplaudem o economista, julgando talvez que se forem à concessionária mais próxima podem de forma imediata retirarem seus carros elétricos a preços módicos para juntarem-se à revolução utopista.
Isso tá Über bom, Charlles.
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