Um colega de trabalho me mostra, orgulhoso, um vídeo pelo celular em que ele filma seu filho de dez anos com uma jiboia enrolada no braço. Estavam indo para a fazenda, se depararam com a cobra, ele parou e obrigou seu filho a pegá-la. É nítido a cara de terror do menino, enquanto fala "chega, pai", e o pai admoesta: "deixa de moleza home". Mais tarde fico sabendo de um amigo que ele faz esse tipo de disciplina radical porque teme que a voz fina do filho não seja apenas um traço da idade.
Ontem esse colega estava defendendo o Bolsonaro. Eu lhe digo sobre o posicionamento dessa figura quanto à educação dos filhos, que eles devem levar uns bons tabefes para engrossarem a voz, e esse colega me responde: "Mas não é assim que tem que ser? Você não tem um filho homem?" Eu lhe digo que é um tanto estranho ele, um homem negro, defender um racista, e ele me responde, literalmente: "Alguns negros merecem o racismo".
__________________________________
Hoje minha esposa me relata o episódio que aconteceu na escola militar de nosso sobrinho, o Rui. O ônibus escolar chegou dez minutos mais cedo ao colégio, e os alunos foram barrados na entrada: não podiam entrar tão adiantados. Uma chuva os pega e ficam Rui e seus amigos enfrentando-a diante os portões rigidamente fechados da instituição. A farda encharcada, fora dos padrões da impecabilidade marcial militar, faz com que eles não possam entrar no colégio em definitivo nesse dia. Alguns telefonam para os pais, mas o Rui não tem pai e as únicas pessoas que o podem buscar são a avó, que não pode porque está acamada com labirintite, e a mãe, que não pode sair do trabalho. O Rui, que já foi assaltado e levaram-no o relógio, que é uma criança ressabiada e algo assustadiça, fica rondando pela cidade por cinco horas até dar o horário de entrar no ônibus de volta. Sua mãe paga 150 reais de mensalidade para isso que é tido como colégio público e gratuito, gasta 750 reais por ano com a farda, e mais 500 reais por mês do transporte vendido pelos próprios administradores do colégio. Eu sempre falo para a Dani que não consigo imaginar o Rui nesse tipo de instituição, e ela me diz que sua irmã prefere isso à escola pública convencional, com o tráfico de drogas, o bullying, a violência e a ingerência e a péssima qualidade do ensino.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCharlles,fora do post...
ResponderExcluirVocê tem acompanhado o "face" do professor?
Não estou a entender mais nada!
Ou talvez nunca tenha entendido nada!
Diante do ocorrido... Os caras querem cassar todos os direitos civis e políticos de Dilma...O golpe de estado ficou em segundo plano...
Esse professor é pura pose e esnobismo. O cara ficou esses meses todos preocupado com questões semânticas dizendo que não era golpe, enquanto tudo desmoronava. Provou que sua relevância intelectual é nula, não se posicionou, se acovardou até no que seria mais digno: se dizer de uma vez de direita. Não gosto de clichês, mas ele é a figura mais bem constituída do "isentão".
Excluir