terça-feira, 14 de novembro de 2017

Lobo Antunes



António Lobo Antunes é um dilema. É o melhor escritor da língua portuguesa _ melhor que Saramago e qualquer outro. Ele escreve tão bem quanto Proust e Nabokov. Sua musicalidade é o que tem de mais sofisticado no mundo das letras, em qualquer idioma. Mas, ele parece implodir no meio de tanto talento. Seus romances são o exemplo mais literal de como o excesso de genialidade cansa. Leiam qualquer primeira página de um livro dele. Aconselho, por exemplo, as primeiras páginas de "Os cus de Judas" e "Conhecimento do inferno". Que maquinaria! Que estrutura perfeita! Que imediata sedução ao impacto do verbo superiormente produzido! Mas aí vem o problema: Antunes não sai da auto-lambeção de seu virtuosismo. É uma profusão de metáforas brilhantes e figuras poéticas de alto nível, de maneiras que o leitor se anestesia: a generosa oferta de arrebatamento a cada período paradoxalmente retira a possibilidade de redenção estética. Ele não vai além disso. Ele carece da indispensável mediocrização que toda grande obra de arte necessita. Com esse gravíssimo erro, seus livros são ourivesarias capengas que tanto não servem como romances como não servem como poesias, apesar de insinuar poderosamente ser o melhor que se pode ter dos dois. Li uns 5 romances de Antunes, me deslumbrei com seu manejo único do idioma (coisa que só raríssimos escritores possuem), mas saí sempre com a sensação de que estava diante uma espécie de angelicalidade aleijada, de sublimidade manquejante. Mas os livros dele trazem um enigma de enriquecimento: é indispensável lê-los. Talvez, como ele mesmo diz, a questão seja porque não são realmente romances nem poesia, mas um gênero novo, criado e habitado só por ele.

2 comentários:

  1. Esses romances mais antigos dele ele mesmo reconhece serem meio empolados, cheio de metáforas e referências artísticas e tal. O estilo tardio é presente dele é bem diferente, embora não menos difícil de ler, quiçá seja mais...

    ResponderExcluir
  2. Não consigo avançar no "As Naus", fico relendo as 30 primeiras páginas sempre que o pego.

    ResponderExcluir