sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Janaína Paschoal



Na terça-feira o Eric engasgou com um pedaço de adesivo de papel. Colocou na boca e, antes que déssemos conta, o fragmento parou abaixo da garganta dele. Ele ficou fazendo careta de vômito, salivando, mostrando-se incômodo com a situação. Eu fiz a técnica de induzir o vômito apoiando em uma de minhas mãos seu queixo e com a outra batendo-lhe com determinação cinco vezes nas costas, com ele de cabeça inclinada para o chão. Não adiantou. Ligamos para nossa pediatra, e ela disse que, se o papel passou pela garganta, não teria mais riscos, que seria grave se fosse aspirado para a traqueia, que déssemos uma papinha sólida para ajudar ele a engolir. Só que ele não engolia, leite, verduras amassadas, nem água. Voltava tudo boca afora. A Dani insistiu para que levássemos ao hospital municipal _ não há outra opção em minha cidade. Lá chegando, esperamos 3 horas pelo atendimento. Uma só médica plantonista. Deve ter uns 25 anos, toda cheia da consciência de sua distinção diante aquele povo sem outras saídas que tem que se prestar a ela. Eu não queria ir porque conheço o nível de excelência desses médicos; eu não achava que o Eric precisava, era só questão de tempo para que o papel fosse dissolvido pela sua saliva e o problema estaria resolvido (se fosse realmente necessário, teria o levado à capital ou a uma outra cidade próxima que tem hospitais particulares). A médica pediu que tirássemos um raio-x. O técnico nos mostrou que a chapa não indicava nenhum corpo estranho atolado em nenhum lugar do Eric. Chega a doutora, com sua panca de nobreza sacerdotal, e nos brinda com sua interpretação da chapa de raio-x, "Aqui está o corpo estranho, essa parte preta aqui no alto da garganta. Vamos ter que interná-lo, anestesiá-lo e fazermos uma endoscopia". O técnico desmente a mulher com jeitinho: "Isso aí não é corpo estranho, é a traqueia, doutora". Mas ela insiste que o Eric seja internado, mas eu digo que não, para não dizer mais alguma coisa. O Eric tem 1 ano. Vamos para casa e a Dani lhe dá de mamar novamente e, finalmente, para nosso alívio, ele ingere o leite com gosto.

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