quinta-feira, 18 de julho de 2013

Os gorilas do templo sagrado (Tarzan, Thelonious Monk, Nabokov, Geoff Dyer e a alegria da resiliência) _ ou, como é linda a vida, apesar de tudo



Por onde começar? 

Já disse em algum outro texto sobre a sobrevida de meu sogro. O médico dele o liberou para comer e fazer de tudo, à maneira daquele filme com o Morgan Freeman e o Jack Nicholson, visto que o prognóstico que veio junto a esse destrambelho radiante era que não lhe restava mais que uns três meses de vida, e por isso seria bom que ele se apressasse se pretendesse escalar o Everest, beber leite de lhama ou caçar tubarões no mar da Tailândia, ao que o meu sogro preferiu esperar por seu desaparecimento absoluto com a muito mais modesta opção de ficar em casa e sair para visitar os parentes e amigos de vez em quando. Nisso foram-se 4 anos. Minha esposa me perguntou sobre minha opinião se eu recomendava que meu sogro passasse pelas sessões de quimioterapia, e eu lhe respondi que meu pai suportara apenas oito meses quando se prontificou a agarrar o milagre por essa porta dos fundos da convencional resignação médica. De seus 70 kg quando entrou para a sala de quimio do Hospital das Clínicas, com a face corada e os cabelos de topete da jovem guarda intactos e negros, meu pai continuava apenas com 30 deles e a aparência mumificada que desnuda qualquer esperança humana meses depois do tratamento, em um coma semi-acordado de total insanidade e sem um pelo no corpo. Pois meu sogro veio nos visitar nesse domingo; fizemos um churrasco e doces para a sobremesa, e não havia nenhum vestígio de doença ao menos em nenhum canto de seu porte físico e seu pleno humor para com a vida. Meses depois que lhe foi dado a notícia da infalibilidade de sua morte, minha sogra desmaiou enquanto comprava pães, e o médico, como num sketch sem graça dos antigos programas televisivos em que o doutor de jaleco branco, com cara de louco e agarrado nas cinturas do casal de sentenciados de sorrisinho triste, solta o bordão grudento "desgraça pouca é bobagem", recebendo as palmas e gargalhadas frenéticas da craque entusiasmada, diz à minha sogra que o enfisema de trinta anos de fumante já lhe tomara conta de 90% dos pulmões. Era capaz que ela venceria essa súbita última disputa do casamento sobre quem seria enterrado pelo outro.

Ambos haviam ganho peso e faltavam dançar na sala, o que, aliás, fizeram. Nesse domingo parecia mesmo um último capítulo de novela, com toda a sua felicidade ilustrada, e se faltou um casamento, para compensar foi anunciado pela minha cunhada e seu esposo que o bebê que esperam no quinto mês, é menino e é perfeito. A doença ainda está lá, como veio selado nos novos exames de averiguação. Mas a impressão é que o milagre, paradoxalmente, também acontecera.

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Essa quebra no texto é para suavizar o humor involuntário da informação de que essa mesma cunhada também está doente. Ano passado, ela sofreu um ataque com todos os sinais de epilepsia em seu local de trabalho. Seus colegas ficaram profundamente chocados ao verem aquela moça cordial, de fala suave, caída no chão, espumando pela boca, com o corpo em uma convulsão descontrolada e os olhos revirados para cima. Por pouco ela não morreu sufocada pela retração da língua. O neurologista lhe passou uma batelada de remédios de uso controlado para tomar todos os dias. Esses remédios a narcotizavam tanto que, escondida de todos, ela parou de tomá-los após o primeiro mês. No dia seguinte, o ataque foi assustadoramente mais violento que o primeiro, e coincidiu de minha esposa o presenciar em um fim de semana que visitava seus pais. A Dani me contou que nada se assemelha mais a uma possessão demoníaca, pois a Adriele, minha cunhada, pronunciava xingamentos arrepiantes, e ameaçava que iria matar os pais quando estivessem dormindo. Uma nova série de exames foi feita, e mais uma vez o médico não detectara nenhuma anormalidade, mas reduzira a dosagem dos remédios para que a Adriele ao menos pudesse falar ainda que lenta e entorpecidamente. Ela teve que se demitir do trabalho e ficar em casa, sob cuidado da outra irmã e dos pais.

Aqui entra o veterinário da família. Eu solicitei à Dani que indicasse à Adriele fazer o exame específico de cisticercose. Deu positivo. Eu mesmo não sabia que o desconhecimento dos médicos sobre a incidência da cisticercose fosse tão grande, a ponto de ter que se pedir um exame diferenciado. Pois dois ovos da tênia haviam se instalado em um local do cérebro da Adriele, e o organismo os matara, formando calcificações que atrapalhavam o fluxo de interações elétricas de vários neurônios, daí os ataques severos. A Adriele, para se adequar à estética combalida da família, ficou raquítica a um ponto próximo da deformação, mas os remédios foram trocados por outros bem menos ofensivos. A última vez que a vi, há 4 meses, fiquei um tanto depressivo pelo que achei que fosse a perda sem retorno de sua beleza. Ela me pareceu ter tantos pelos no rosto que foi difícil suportar as comparações involuntárias da minha imaginação pérfida com a irmã e a mãe hansenianas do Ben-Hur.

Há coisa de três meses, o irmão de um colega meu de trabalho teve que ser levado algemado para a internação em uma clínica. De sua prevalência habitual de calma e ponderação, subitamente ele se revelou possuído pelo demônio. Quebrou os moveis da casa, avançou contra a mulher e as crianças. Eu estava de férias e disse à amiga que me comunicou do fato a já tautológica recomendação de que pedissem exames para ovos de solitária na cabeça. Mais uma vez Satanás foi inocentado, e descobriu-se que o criminoso era o porco caipira. Recordo que, recém formado, tive a intenção de começar uma pesquisa independente sobre a cisticercose, no que eu via como provável epidemia sub-clínica em diversas regiões brasileiras_ incluso aqui onde moro. Mas deixei de lado. Uma vez, enquanto frequentava o curso universitário, passei uma férias em Catanduva, e, junto a uma equipe de pesquisa, necropsiamos diversos porcos da região do interior de São Paulo, e todos, sem exceção, haviam apresentado a tênia no intestino.

Mas o propósito deste post é a feliz resiliência que vi neste domingo. A Adriele está grávida, linda, gorda, falando as tantas deliciosas besteiras que ela tanto tem talento para falar_ à semelhança da princesinha Bolkonsky. Mais uma vez eu repito a máxima verdadeira do velho Tagore: "É preciso muita coisa para se matar um homem".

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Sobre o velho assunto da literatura:

Estou lendo dois livros deliciosos. O Contos reunidos, do Nabokov, e o Todo aquele jazz, de Geoff Dyer. Caramba, que maravilha! O Nabokov me fez lembrar de uma das portas do gosto da leitura, promovido em mim por meu pai quando ele me presenteou, lá pelos meus dez anos, com alguns livros em quadrinhos do Tarzan. Nem era o Tarzan do Burroughs desenhado pelo Hal Foster, o clássico dos clássicos, mas uns gibis de longas páginas horizontais que falavam sobre um Tarzan que era miniaturizado para salvar o povo das formigas em um volume, e lutava contra uma seita religiosa de gorilas terríveis que veneravam determinado demônio da guerra em outro volume. Recordo que esse foi um daqueles momentos de felicidade extrema da minha vida. Meu pai me disse: "Isso aqui é muito melhor que cinema". Eu os li e reli e me transmutei para dentro desses livros. Como os macacos fanatizados, eu comecei a reverenciar esses livros. Em uma extensão freudiana, é bem possível que toda a minha vida de leitor_ olha só os relâmpagos súbitos da auto-revelação_ se resume na busca pela repetição da mesma felicidade que senti com esses livros do Tarzan. Não tem exagero: talvez a intensidade tenha se alterado nos vários momentos que se seguiram, mas essa felicidade foi recuperada com Thomas Mann, Faulkner, etc, etc. E esses contos do Nabokov me fazem tão plenamente feliz, tão próximo àquela sensação de meus dez anos, que não me passa desapercebido a hipótese de uma pré-senilidade que anuncia em meus 40 anos o velho abobado de alegre infantilismo que eu serei se chegar aos 80.

Nabokov é um miserável de um grandissíssimo escritor. Ele brinca com os contos que escreve, brinca com o formato perecível dos tantos periódicos e revistas para onde essas condensações de seu gênio vaidoso eram enviadas para a publicação. No meio de contos que ele sabia serem imortais_ como qualquer leitor sabe imediatamente ao ler, por exemplo, o conto La veneziana (que aliás, como o cheque do Nobel de Hamsun que quase se perdeu em um elevador de uma pensão, com a mesma displicência só foi redescoberto décadas após ter sido escrito)_ , ele simula estragar tudo com doses desconcertantes de coloquialismo anti-estético. Durante determinada cena impecável de suspense, em que tudo está xamanisticamente espetando a percepção acentualizada do leitor, ele lança um cumprimento, um oicomovai, que faz pular no sofá. Para quem deseja fazer um test-drive desse livro, sente-se na poltrona de uma Livraria Cultura, abra o volume em um dos tantos conto curtos, e leia, por exemplo, O passageiro. É um conto que não fala sobre nada, um mero exercício, mas está tudo lá: a metalinguagem de primeira, o clima de uma Europa invernal oitocentista acolhedora no que tem de insurgente risco de assassinato, o trem-expresso e seu vagão onde o leitor se instala com agradecimento. Está lá o que está em todos os outros contos e em toda a literatura que se preza por sua absoluta imprescindibilidade: a força de nos arrebatar desse mundo, de nos fazer acreditar nas alternativas muito materiais da abdução. Enquanto estou na companhia de Nabokov_ e, felizmente, me falta ainda mais da metade do livro para ler_, eu divido com ele todas as suas opiniões tolas de grandeza e todas os seus preconceitos estereotipados contra outros escritores: Quixote é o mais brega dos livros e Faulkner é um idiota superestimado.

E o livro de Dyer... Ontem eu tive a oportunidade celestial de lê-lo ouvindo Thelonious Monk e Lester Young, os dois primeiros personagens das primeiras cem páginas. Vou escrever um texto específico sobre Todo aquele jazz assim que terminar de lê-lo (acho que hoje termino, mas escrevo lá pelo sábado). Só posse dizer que Viva e Literatura!, Viva o Jazz!

E Geoff Dyer é um grande escritor. Uma palhinha:

"O período dos anos inexistentes, como Nellie os chamava, chegou ao fim quando o 5-Spot ofereceu a Monk um lugar fixo pelo tempo que quisesse, até quando as pessoas quisessem ouvi-lo. Nellie ia lá quase todas as noites. Se não fosse, ele ficava inquieto, tenso, fazia pausas mais longas que as habituais entre um número e outro. Às vezes, no meio de uma série, telefonava para casa a fim de saber como ela estava, grunhindo, fazendo no fone ruídos que ela interpretava como uma terna melodia de afeição. Deixava o fone fora do gancho e voltava ao piano de forma que Nellie pudesse ouvir o que estava tocando para ela, levantando-se de novo no fim da música, metendo outra moeda na fenda.
       _ Está aí ainda, Nellie?
       _ Que bonito, Thelonious.
       _ Oêê, oêê_ fitava o telefone como se estivesse segurando algo excepcional."

P.S.: Ontem, enquanto passeávamos de carro, eu brinquei com a minha esposa, me referindo ao espólio dos pertences de seus pais que futuramente será repartido: "Que tristeza me deu ao ver seu pai gordo, o rosto corado, e sua mãe com aquele vestido curto mostrando as pernas bronzeadas". Eu continuava no mesmo tom, enquanto a Dani se contorcia de tanto rir. "E tudo isso às custas de meu dinheiro". E dobrei a esquina onde nos esperava o parque do lago e o sol radiante da manhã.

37 comentários:

  1. Fiquei @_@' com o problema da carne de porco. O abandonei faz uns anos, mas fiquei assustado. OS VELHOS SEMITAS ESTAVAM CERTOS.

    Se não for pedir muito (teus leitores são abusados, acostuma-te), escreve ai o que o Nabo disse sobre o Faul. Please.

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    1. Não me recordo bem, foi em uma das tantas entrevistas, mas o Nabo achava que Faulkner era um escritor medíocre, que Hemingway era para adolescentes, que o Quixote era uma obra cafona feita pela ralé, e assim vai...

      O porco de granja já não tem vermes, por causa dos remédios dados junto com as rações. A carne bovina também tem, mas em menor frequência. Há casos de infelizes que pegam cisticercose através de legumes mal lavados, colhidos próximos a chiqueiros.

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    2. Quero ainda comentar depois de forma mais atenciosa o seu texto, que, ao meu ver, é contiguo ao ensaio passado sobre a seriedade e o humor.
      Por enquanto passo aqui só para lembrar que Nabokov não gostava de Dostoievsky 0_0
      E me recordo alguém comentar que ele também tinha restrições a Borges (não sei se essa última referência é apócrifa)

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    3. Nabokov aparentemente se referiu aos contos de Borges como “flimsy little fables.” 0_0

      Uma texto sobre o rol de ilustres desprezados pelo veneno destilado por Nabokov
      http://www.doppelgangermagazine.com/june/naben_ruthnum.html

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    4. Passei muito tempo desprezando Nabokov, sem o ler, por causa dessa predisposição dele à maledicência. Li o Lolita, pressionado pelas tantas listas dos melhores do século XX, e por um ensaio do Bellow que coloca esse romance lá no alto. Impossível não gostar de Lolita. Depois, tentei ler Fogo Pálido, mas não consegui: chato, chato, chato.

      E esses contos são formidáveis. O que se é levado a pensar é que ninguém escreve melhor. Borges, é claro, está num nível único, talvez por ser revolucionário_ criou uma literatura. Nabo aqui é ótimo por enveredar por todas as convenções clássica da literatura.

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    5. Pale Fire chato? Não li. Mas sempre esteve na minha lista de livros desejados. Pnin também, apesar de que Pnin foi escrito em Russo e eu botei na minha cabeça de aprender a escrever em inglês conforme os grandes estilistas Ingleses e Americanos. Portanto, só entra o Nabokov em diáspora americana por agora.

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    6. Acho que toda a obra em russo foi traduzida para o inglês pelo Nabokov, sendo que alguns contos recuperados foram traduzidos pelo filho dele, que também o ajudou na tradução do restante de sua escrita.

      Quero muito ler o Fala, memória!

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  2. Gostei: http://www.companhiadasletras.com.br/trechos/13510.pdf

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    1. Entendi. Liguei os pontos agora. Matheus é orfão dos direitinhas dos Wunderblogs.

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    2. Esse senhor aí de quem você gostou fez parte da turma de escritores (alguns promisssores, outros não) que fizeram parte do portal Wunderblogs. Daniel Pellizzari, Ruy Goiaba, Alexandre Soares Silva, etc. Eles faziam guerra cultural no início da década passada com os blogueiros progressistas.

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    3. Fui investigar o que era Wunderblogs. Não conhecia, mesmo. Nessa época mal tinha internet. Só recebi o link, li, gostei e resolvi deixar aqui. Tô sofrendo bullying constante por sua parte. Cuidado, pois um direitoso, liberal, reaça e conservador que sofre disso é perigoso, cara. Hehe.

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    4. E eu que queria prover uma educação "progressista" acabo te municiando de mais conteúdo REAÇA. 0_0

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    5. Obrigado, professor. Libera ai mais conteúdo proibido.

      A partir de hoje, para ser mais aceito entre os revolucionários na faculdade, passarei a dizer q sou liberal-conservador moreno.

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    6. Hahaha. O Luiz tá certíssimo na referência, mas não contava com a pouca idade do Matheus. Eu lia esses Wunders, do qual creio q ASS era o melhor, com todos os senões possíveis. Ele me parece um daqueles vejistas para quem o Charlles andou se assanhando ultimamente, mas com um humor fino - e no entanto talvez vítima deste humor. De repente o Luiz abominasse esses caras, mas eu apenas lia com um escudo, e a luta era boa. O Matheus DARIA pra eles, nisso o Luiz tá certo. Hahaha.
      Aproveitando, concordo com o Luiz (sei q tá ficando chato, e o Luiz tem o nome do meu pai), esse texto dialoga com a ideia de seriedade do post anterior. E lembro q eu colei um link aqui há uns meses atrás q, por outras quebradas, falava num esgotamento de um certo tipo de humor - um esgotamento pelo excessivo. Só q o Charlles disse q não entendeu muito, seria um texto muito "jovem". Mas a ideia era por aí.
      Eu sei q cai para o jornalismo (até um certo ponto), mas essa seriedade eu tenho lido, com gosto, nos textos da Eliane Brum.

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    7. Opa, peraí! DAR? Sou gaúcho, mas não pratico e nem sou tricolor (5ª série), caro RÔMULO. [E pior que to chegando naquela idade que fazem piadinhas: 24, vim de quatro, que?, veio de quatro? hihi viado!, viado!!]

      Vocês odeiam quem hoje na net reaça?

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    8. Eu não odeio ninguém; só tenho uma ressalva pesada com o pedro bial. Mas gostei do segundo conto ali do pelizzari. (o q é isso? um novo-existencialismo?). Nesse mundo, parece ser tão fácil dizer q tudo não tem, ou q tem, nada, ou tudo, a ver.

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    9. Eu gostava de ler o Alexandre Soares Silva. O Dante Gabriel R. também era engraçado. Mas me desagradava um tanto o clubismo dos Wunderblogs e aquela vibe "comamos e bebamos porque amanhã morreremos."
      O único reaça da net de quem eu gosto é você, Matheus. :)

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    10. O Alexandre Soares Silva é mais um personagem dos Guermantes do La Recherche que um reaça propriamente dito. Ele acha que ideologia é sentar-se para o chá da tarde com bolinhos de chuva e Grey Earl. Inofensivo.
      Faz o curso de filosofia do Olavo mas considera o True Outspeak um show de horrores (como aliás qualquer pessoa sensata)

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    11. "O único reaça da net de quem eu gosto é você, Matheus. :) "

      Olha que nesta sexta-feira nublada, fria, europeia de Porto Alegre, encararei isso, para amenizar o clima, como um elogio e apreço sinceros. :)


      Mais um pouco e voto no Jean Wyllys.

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    12. Eu discordo de muitas coisas do ASS, mas os textos dele são muito prazerosos. Esse aqui me lembra o tom das melhores crônicas de Nelson Rodrigues. http://www.leiatom.com/monarquia/

      De todos os livros do Amores Expressos, o que mais me agradou folhear foi esse do Pelizzari, o único que pretendo comprar. Conheci-o pessoalmente esses dias, e ele foi duma gentileza que me deixou desconcertado. Saí dos cafundós da Bahia esperando alguns narizes empinados, e confesso que fiquei surpreso com a facilidade de diálogo das pessoas. No curso que fui fazer, o Dyer participou de um bate-papo, e é um cara engraçadíssimo, muito mais que o livro dele que li, Jeff em Veneza, Morte em Varanasi. O curso foi gravado, pode ser ouvido aqui. (http://radiobatuta.com.br/Episodes/view/327).

      Ah, e essa foto de Monk, que está numa série que vi numa Serrote, é maravilhosa.

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  3. Luiz, te dê de presente esse livro do Dyer, cara. Te garanto que você vai amar.

    Em nossa última conversa, sobre discos difíceis, cerebrais demais, eu havia me lembrado de falar para você que Monk sempre pareceu fazer música nesse nível. Brilliant Corner, por exemplo, eu não conseguia digerir até ontem, quando, impulsionado pelo belo retrato de Dyer, me dispus a escutá-lo. Esse livro para admiradores de jazz é um marco.

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  4. Charlles,
    aproveitando a sua apologia ao humor, do post anterior, e as risadas da sua mulher, diante da sua piadinha associada ao seu sogro que teima em viver, então, vai lá…:
    .
    .
    O VELHO ADAMASTOR
    by Ramiro Conceição
    .
    .
    Depois de um sábado,
    a fazer sol ou pingos,
    sempre…: um bingo!
    É…, de belzebus
    d’olho no patrimônio
    do velho Adamastor,
    a casa ficava atulhada
    de espelhos - do amor -
    sempre aos domingos.

    Durante bimestres,
    Adamastor não partiu.
    Durante semestres,
    Adamastor resistiu:
    passaram-se anos…
    Porém, pouco a pouco,
    naquela casa, só ficou
    o pó, as cinzas da canalha.

    Por fim, o velho Adamastor,
    que tudo fingia e nada dizia,
    finalmente, um dia  sorriu.

    Afinal,
    qual é a moral
    dessa história? Ora,
    a morte não namora!




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    1. [charlles me acostumou tanto a ler o seu "diante o/a" q eu agora acho feio o "diante do/da".]

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    2. Hahaha. O idioma português é um mistério para mim, arbo. "Mal", "mau", "aonde", "onde", etc. Não vou dar uma de Joãozinho-sem-braço e dizer que não tenho boa bagagem (através da leitura, não de meus péssimos desempenhos escolares nas análises sintáticas), mas o que estou gostando mais do retrato de Thelonious Monk no livro do Dyer era que Monk era um rústico no piano, dedos duros que violentavam as teclas como se tocassem percussão, e, contudo, ou por causa disso, Monk é Monk (sem referências umbiguistas, só me lembrei disso). :-)

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    3. é sério q eu acho bonito o jeito q tu escreve, e nesse particular acabei até achando certo, pois "diante", como preposição, deveria se bastar... assim como "perante".
      diante de já me é cacofônico ;-)
      (termino com uma carinha dessas, q parece q virou moda aqui - @_@, 0_0)

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    4. arbo e Charlles.
      .
      “Diante de…” ou “diante…” são diamantes a serem lapidados pela água da língua viva... "Vossa mercê", "vossemecê", "vosmecê", "vancê" e você é a prova cabal que existe a história feita por esse ser……………….humano, ainda tão distante daquele inexistente, “ser-humano.”
      .
      PS: por outro lado, “Mal” ou “Mau”, “Bem” ou “Bom”, aí, a meu ver, são outros quinhentos mil quilômetros DIANTE DA ÉTICA.

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    5. ( •_•)
      ( •_•)>⌐■-■
      (⌐■_■)

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  5. Eu já tinha lido que o Nabokov detestava o Joseph Conrad -- acho que, especificamente, ele tinha uma opinião bem pouco lisonjeira sobre o "O Coração das Trevas". Mas não sabia que tantos outros eram alvos do desprezo dele. Fiquei curioso, fui procurar, e achei isso: http://www.mjiles.com/obookispage/?page_id=157.

    Charlles, se quiser depois seguir nos contos do Nabokov, procure o "Detalhes de um Pôr-do-Sol", que é lindíssimo. Aliás, quero reler; li faz bastante tempo, mas tenho uma lembrança maravilhosa d'umas férias em Natal, deitado numa rede lendo esse livro. Mas antes quero ler o "The Luzhin Defence", que me chama particularmente a atenção por ter o xadrez como um dos temas (pelo o que eu li na contra-capa).

    E eu tava muito a fim de ler esse sobre jazz do Geoff Dyer, mas li em algum lugar que é uma mistura de ficção e não-ficção... é isso mesmo? Não sei bem porque, mas isso tirou um pouco do meu entusiasmo. Ah, e me recomendaram um livro dele sobre fotografia chamado "O instante contínuo", saiu aqui pela Cia das Letras.

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    1. Nesse volume do Nabokov vem todos os contos do cara, divididos pelos títulos das coletâneas publicadas em vida do autor. Tem sim o detalhes de um pôr do sol.

      Engraçado, é um desestímulo para todo mundo o fato do livro do Dyer ser uma ficção. Quando me chegou, saber disso foi como receber um presente de aniversário oco. Mas decidi lê-lo, e o livro ganha muito por ser ficcional e não documental. Várias das partes ali narradas são verdadeiras, e Dyer escreve com um gingado de malandro que tem muito da própria linguagem do jazz, numa agilidade e beleza em montar frases cortantes e poéticas de dar gosto.

      Esse instante contínuo é outro título bastante elogiado.

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  6. Não me incomoda o livro ser ficção (se o fosse totalmente), mas sim ser ficção e também não-ficção! Não sei bem, mas acho que o que me deixa um pouco desestimulado é ficar sem saber, depois da leitura, qual história é real, qual é ficção... Mas às vezes nossas lembranças todas, lidas ou vividas ou mesmo sonhadas, se confundem todas, não é mesmo? Então não faz diferença, vou ler o livro.

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    1. O livro me recordou muito o clima de degradação dos vagabundos iluminados de Kerouac. Os jazzistas de Dyer são como anjos degradados, seres absolutamente puros cuja inadaptação ao mundo é o único pecado que pesa sobre eles.

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  7. Li o texto todo mas me sinto muito longe desse referencial, pois não sou dos admiradores de Tarzan, Monk, Nabokov e outros, e não sei o que fazer com reminiscências familiares e personagens afins que, de tão reais, me parecem ilegíveis.

    Então queria falar doutra coisa que ouvi ontem e me recordou uma velha passagem duma literatura judaica; um rabino dizendo para outro judeu que ele deveria aceitar o filho homossexual, pois está no livro que os filhos são um presente que põe à prova nossa capacidade de amar alguém mais do que a nós mesmos.

    Achei bonito, li o texto acima e me vejo ainda incapaz de amá-lo. Feliz por que ele, pelo menos, não é filho meu.

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    1. Estava com saudades do meu blog, né? Te vejo louco para chegar da praia para acessar isso aqui. Quase nem se aguentando...

      Não ficaria feliz se um filho ou um filha minha tivesse atitudes afrontosamente superlativas, ainda mais quanto a posturas sexuais: a masculinidade ostensiva ou a homossexualidade ostensiva. Mas isso teria muita chance de ser culpa da criação que eu e minha esposa teria lhes dado, não de sua predisposição genética. Que eles sejam o que quiserem ser, que meu amor será sempre imbatível, desde que esclarecidos e auto-críticos.

      Escrevi três resenhas de livros para colocar aqui nessa semana: uma semana literária. Tive um grande impacto com a leitura de Esperando Godot.

      Mudando de assunto: a Veja noticiando que psicopatas rendem grandes empresários, e apontando as características da psicopatia para serem seguidas pelos pretendentes à ascensão social. A Carta Capital dizendo que o MC morto no palco era um intelectual que deveria ser respeitado no que tem de didatismo moral aos jovens. Realmente, estamos na merda institucional...

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    2. Fico pensando mesmo é na hora de abandonar uma ideia, qual seja, escrever em blog (Rachel já desistiu, e eu, para não ter que mudar o nome do glog que era dela, pretendo seguir o caminho), ler jornais, revistas, ouvir pessoas, ler blogs alheios, ou mesmo essa ideia de existir como fonte de experiências várias, tanto fazendo se as classifiquemos como prazerosas ou não... Ô mundinho chato, esse.

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