sexta-feira, 29 de maio de 2015

Fome, de Knut Hamsun









Creio que nunca fiz isso nestes cinco anos de blog, nunca recomendei que os frequentadores desse espaço comprassem determinado livro, por mais que eu demonstre meu amor por alguns autores e algumas obras. Desmoderadamente, agora: se eu fosse vocês, compraria imediatamente a nova edição de Fome, de Knut Hamsun. Não vou falar nada absolutamente sobre ele, apenas que é uma das experiências mais sublimes de leitura que já tive. A capa parece de livro espírita, mas a tradução é válida pelas mãos do Drummond. Vai passar batido pela imprensa cultural, por ser de uma editora desconhecida e por ser de um autor que nada tem a ver com as tendências modernas da escrita cool institucionalizada, e provavelmente ninguém mais vai falar dele. Para conter um pouquinho só dessa enorme injustiça, aqui vai literalmente meu conselho: deixem tudo que estão fazendo, e vão fixar esse livro dentro de um oásis de eternidade em suas vidas.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Maravilhamento


Tive que sair de férias por uma semana com as meninas. A Júlia atacou de Blues, do Robert Crumb, claro que inventando deliciosas histórias no lugar do texto que ainda não sabe ler. Eu, além desse volume, comprei no aeroporto o Submissão, do Houellebecq, uma reedição de surpresa bem vinda de Fome, do Knut Hamsun, e O talentoso Ripley, da Patricia Highsmith. Eu parecia essas pessoas que atacam o supermercado antes de um feriado prolongado, como se esperando uma hecatombe de falta de alimentos. Eu previa uma amolação gigantesca, um tédio inumano, e dias de 36 horas na beira da praia. A Dani falou que se eu comprasse mais livros em cada aeroporto, daria excesso de bagagens e eu os perderia todos. Fiquei nestes. Li a metade do Houellebecq; bem prazeroso. Hoje vi uma entrevista dele pela Globo News, ele dizendo que, pela manhã, assistindo a um documentário sobre a Teoria das cordas, foi um desses momentos diários em que ele acredita em deus. É tudo bem organizado e bem feito demais, disse. É como eu digo, a literatura é um caminho, uma vela acesa no meio das trevas (citando Faulkner), mas não é para se levar muito a sério. Aliás, nada é para se levar a sério. Talvez, no meio da experiência religiosa que eu tive na última quarta-feira, só se pode levar a sério a praia maravilhosa, inesperadamente deserta, que eu vi. Surpreendi a todos que estavam comigo ao fazê-los ouvir que eu seria perfeitamente capaz de deixar tudo e morar ali, e eu estava sendo sincero. Senti como Whitman diante as estrelas, eu esqueci de tudo diante aquele mar e aquela noite infinita. Eu quis ficar ali para sempre. Perguntei à Dani que horas eram, temendo que a madrugada estivesse próxima fazendo que tivéssemos que voltar logo para o hotel, mas ela disse, chocada, que eram 5 e meia da tarde. Como a vulgaridade é uma das constâncias físicas infalíveis, no outro dia a mesma praia estava repleta de pessoas, as mais variadas possíveis, com cadeiras e guarda-sóis, pagando altíssimos custos pela mais irrisória ninharia, nesse Brasil lamentável de extorsão que custa mais caro que uma viajem a Paris. Encontrei outro turista, do Paraná, também indignado: em Nova York, ele pagava um real por um sorvete; na praia, o mesmo sorvete era 10 reais. Eu me abstive de criticar, teimando em tentar reviver a visão dos primeiros deportadores que chegaram àquela praia, antes da vulgaridade, antes da ganância desesperada. No tour que fizemos, era inegável que a crítica voltasse com tudo. As praias vistas na mais distante ponta de areia, naquela tarde redencionista, de perto estavam tomadas de resorts e hotéis de luxo suntuoso. As partes ainda prevalecentes de vegetação natural, estavam aos poucos sendo ocupadas por esqueletos de construções, com os tantos pedreiros-formigas queimando em um calor de 40 graus. Em um muro de metal provisório, que limitava uma dessas construções, alguém escreveu a frase "Mais natureza, menos concreto". Não nego que foi muito bom, assim como não nego que foi pavorosa as tantas viagens de avião. Fui uma vez para a Austrália com meu pai, mas a incipiência de meus dez anos me poupou do medo. Mas dessa vez, o pavor tomou conta de mim em silêncio, e foi tão mais terrível pela certeza que eu tinha de que todos ali naquele cano ao deus dará fingiam não se importar com a presença nítida da morte escorada na ponta balouçante das asas. Ao chegarmos em casa, eu disse que não viajaremos de avião pelo menos pelos próximos 4 anos, quando então iremos à Escócia e à Irlanda para o Bloom Day.

Houellebecq foi uma boa companhia no quarto do hotel, com o ar-condicionado ao máximo.

domingo, 17 de maio de 2015

Notas espontâneas, apressadas e irresponsáveis sobre Cachorros de palha e um filme de Woody Allen



Um livro importante, desses que seria bom se as pessoas lessem. Não traz nada de novo. Quase metade é puro exercício excepcional de retórica, o que não passa, trocando em miúdos, de retórica. A outra metade é um estudo mais contundente sobre a obtusidade criminosa e suicida da humanidade. O que mais assusta é que percebo que já se passou o tempo em que os livros terríveis, por mais terríveis que fossem, tinham o consolo de falarem de outro tempo, de um futuro a ser herdado para uns cinquenta a cem anos. Os livros terríveis de hoje falam de tempos terríveis a serem enfrentados agora. E o que Gray fala aqui são de problemas à primeira vista incompatíveis demais em seus gigantismos com a miudeza estúpida do homem. É tão assustador e premente quanto Colapso, de Jared Diamond, embora não ofereça a esperança tímida de Diamond. Para Gray, a julgar por este seu livro, a humanidade construiu um labirinto inescapável em que a extinção é fato a ser consumado. Lembro do curso de História, em que se falava que áreas de estudo como a micro-história, a história das mentalidades e a história oral serviram a tirar o foco da narrativa dos heróis e reis para o homem comum. E agora, todos os livros terríveis só falam de homens comuns. Há uma semana um amigo me disse sobre uma pesquisa que assinala que a era do livro desenvolveu mais inteligência nos homens, e que a era da internet afunda o homem em uma progressiva burrice. Eu percebo isso, de forma assustadora, em meu cotidiano. Esses dias estava ouvindo um colega meu dizer que, se fosse possível, se ele tivesse uma propriedade que valesse um milhão, ele a penhoraria e sumiria com esse milhão. O dito cujo é formado em geografia. Eu o desconcertei com o raciocínio óbvio de que, se ele tivesse uma propriedade no valor de um milhão, um banco a avaliaria por uma tabela de valores bem mais baixo, para depois oferecer de 100 mil a 200 mil de penhora. Constato essa estupidez por todos os lados, parece uma epidemia. Eu vejo claramente que os seres humanos estão cada vez mais estúpidos. Já disse aqui e torno a repetir o quanto de pessoas vem me mostrar um vídeo em seu celular, recebido pelo whatsapp, cujo conteúdo é constrangedoramente infantiloide. E o gosto estético! Ainda me recordo quando, um conhecido meu estando de carona comigo, ao me ver parando num sebo para comprar os três volumes de José e seus irmãos, de Thomas Mann, me dizer, querendo piedosamente me salvar do valor monetário para ele absurdamente alto dos livros: "não faça isso, eu sei dessa história e conto ela para você". O quanto besteiras que deveriam servir apenas a uma efêmera curiosidade de consumo, como Game of Thrones, são tidas como clássicos imediatos, revoluções da narrativa e revoluções estéticas, ainda que não passem do mais do mesmo recalibrado com sexo brutal e encheção de linguiça entediante, referências truncadas à história e filosofia com a profundidade das pesquisas no Google_ e, apesar da superficialidade, ou por causa dela, são tidas como cultura sofisticada. A esperança abortada que se poderia ter do livro de John Gray é que, afinal, todos os terríveis vaticínios já sentidos na pele apontados por ele se referem à bestialidade do homem comum. O homem do qual ele traça um dos mais impactantes retratos: o homo rudens, ultra-violento, ultra-egolátrico e vaidoso, que vive de moralismos sintéticos auto-beneficentes e hipocrisias que cursam atestados pessoais de encontros com a Verdade. É muito importante ler esse livro de Gray, ainda que o ser bestial do qual ele trata acharia que tal livro é uma súmula de elogios à sua supremacia de sobrevivente desapiedado, sentado em seu escritório ou em seu gabinete ou em seu consultório ou detrás da mesa da sala de diretoria de sua empresa. Confesso que meu círculo de amigos se restringiu bastante. Não me sinto superior, me sinto esclarecido. O homem esclarecido, o homem culto, jamais se sentirá superior. Muito pelo contrário, ainda que eu nunca abandonaria o caminho dos livros se em um retrocesso alternativo visse que eu seria alguém muito mais feliz e realizado se abstivesse da leitura. O homem esclarecido não cai na balela da procura pela felicidade. Dentro de valores comparativos, eu sou um homem esclarecido, o que pelo baixo nível geral não se trata enfim de uma conquista muito grandiosa. A sorte minha é que eu sou descansadamente feliz na solidão. Um dia desses veio aqui em casa um de meus poucos verdadeiros grandes amigos, um historiador cuja providência impôs a distância de mil quilômetros entre nós, agora que ele é chefe do departamento de cultura de outro estado, de forma que nossas conversas longas e agradabilíssimas às cinco da tarde entremeadas na degustação da camomila ficaram resumidas a uma vez a cada dois meses, quando ele pega seu carro e vem passar alguns dias aqui na casa de seus pais. (Esse amigo pegou a moto e atravessou trezentos quilômetros de puro gesto de amizade para assistir a meu casamento, há 5 anos.) Nesse dia em que ele veio, ele se confessou tonto de solidão. Ele disse que estava sozinho em sua casa, e teve que se sentar no sofá pois sentia que as forças se lhe esvaiam pela pressão de dias inteiros sem falar com ninguém. Ele também se dá bem com a solidão, por isso estranhei que me confessasse isso. Eu também não sei, se não fosse minha esposa e filhos, eu teria me mandado, não estaria aqui em uma casa estabelecida, nem sei o que seria de mim. A família me ensinou que se deve suportar o nível paupérrimo a que a grande maioria das pessoas se limita voluntariamente, e procurar veemente fazer com que seus filhos se tornem cultos por sua vez e esclarecidos para se deleitarem com o segredo de que são mais que números a serviço de um jogo. Ele me deu um livro do Braudel, e eu lhe dei o Notas do Subsolo. Ele me ligou dizendo que acabara de ler Cem anos de solidão, e estava extasiado, e agora entendia porque eu insistia tanto que ele lesse o Subsolo, estando já na metade dele. A pobreza compulsória de espírito da humanidade aponta para um futuro terrível, mas temos que manter a esperança.

Eu estou com esse livro de Gray na cabeça desde que o li no começo da semana, em dois dias. É um livro de um negror violento, mas, ao mesmo tempo, libertador. E hoje de manhã, enquanto a turma dormia (manhã fria), assisto o filme do Woody Allen que botei para gravar. Certa vez eu teci uma diatribe falando mal de Allen, mas é pura mentira. Eu adoro Woody Allen_ a adoro um tanto mais estranhamente seus filmes medianos. O de hoje foi um que nem sequer sabia que existia: Tudo pode dar certo. Um filme mediano, mas absolutamente encantador para mim. Talvez os que o viram vão pensar: o Charlles virou um sentimental de gosto decadente mesmo, ou coisa que o valha. O filme responde ao livro de Gray, o que talvez possa até ter sido intencional da parte de Allen (Cachorros é de 2002, Tudo pode dar certo de 2009). O filme trata sobre um ex-professor de física, altamente inteligente, que tentou o suicídio após a esposa lhe deixar, e que agora mora em uma espécie de sótão despojado, sozinho, cultivando uma visão niilista sobre a existência. O ator é fenomenal_ um dos poucos filmes que não traz Allen no cast do elenco_, e a gente é levado a ver Allen nele. Um certo dia, voltando de uma conversa de bar com os amigos, o herói se depara com uma garota que fugira de casa aportada na escada de seu apartamento. Ele a recebe em casa, e não existem duas pessoas menos condizentes uma com a outra. Ele é um loquaz misantropo com réstias de exuberância simpática que beira os 60 anos, ela uma garota recém saída da menoridade com nenhuma ideia substancial na cabeça e bastante ingênua. Os dois acabam se casando. O filme tem aquele didatismo incorrigível de Allen, cheio de arestas cinzeladas bem redondinhas (que funcionam sempre por Allen ser astuto o suficiente para justificar a falha artística na leveza de mostrar continuamente que não se leva a sério), e os diálogos mantem o ponto forte de Allen. Tá, tá, tá. Vamos em frente antes que eu me perca ainda mais. A mãe da garota aparece no apartamento; é uma mulher tipicamente WASP, branca e exsudando moralismos religiosos enraivecidos e descerebrados, que desmaia ao ver que a filha se casou com um velho ranzinza. Lá pelo final do filme, aparece o pai da garota, o marido exímio modelo republicano, sócio do Clube do Tiro, macho dominante e da mesma forma exsudando domínio sobre um deus cristão servil a seus propósitos ascensionistas. E aqui vai um spoiler filho da puta, ou um spoiler, filho da puta. A mãe caipira infinitamente limitada da garota é descoberta por um dos amigos do herói, e se torna uma talentosa fotógrafa; o pai caipira infinitamente limitado da garota assume sua homossexualidade em um bar, e se casa com outro homem. Essa é a resposta de Allen para Gray, e é justamente a resposta que Gray intui e quer ouvir de um leitor atento. Allen diz que a salvação para a humanidade é o homem deixar de ser comum. A certa altura, a garota simplória que se casa com o professor gênio da física o critica pela primeira vez, dizendo que ele tinha que deixar de ser ranzinza, tal qual uma criança emburrada, e ver que as pessoas não são má, apenas tem medo. O professor fica embasbacado e, na mesma diretriz sincera que o destaca, diz admirado que jamais esperava uma avaliação tão inteligente vinda de uma cabecinha tão fútil. Está aí, pensei. Allen em seu didatismo, em sua redondez límpida, atinge uma profundidade única em suas formas de concisão rendidas às exigências de atendimento às massas da indústria cinematográfica americana. Gray fala dos homens comuns, que, infelizmente, se tornam ainda mais comuns graças à tecnologia atender estritamente ao comércio. O homem comum que, finalmente, no cúmulo de milhares de anos de história cultural, tem toda a grande música, a grande literatura, o grande conhecimento substancial, ao alcance de um clique, como se diz, de graça, mas sua simploriedade visceral torna toda essa fonte de esclarecimento inacessível, optando pelo escatologismo da merda estúpida do zapzap. Os personagens desse filme de Allen se tornam livres, se revelam, perdem o medo, são paridos em plena maturidade quando o destino ou as convenções do bom roteiro os exorcizam e os fazem deixar de ser homens e mulheres comuns. Eles passam a usar o cérebro e pensar não por clichês e pelo titerismo dos inúmeros poderes instituídos da alienação e do comportamento de rebanho.

domingo, 3 de maio de 2015

Em outro lugar



A verdade para Tarkóvski nunca é um fim alcançável, uma possibilidade de satisfação consciente que permita uma harmonia mediadora entre o tempo em que vivem os personagens e o tempo do mundo que os cercam. A verdade para Tarkóvski é sempre um sopro incognoscível, presciente, cuja grandeza alienígena não se presta sequer à intuição da loucura; está além e em volta de tudo mas a uma distância contraditória que é ao mesmo tempo friamente indiferente e gestativamente vigilante; sua efemeridade insuportável faz com que os heróis tarkovskianos que existem para a tentativa obsessiva de alcançá-la procurem ficar de frente para onde sentem que sua força emana, o que, em decorrência, faz com que eles não sejam mais deste mundo, abdiquem de compartilhar a velocidade do dia. Por isso, diante o inominável inexequível, os personagens de Tarkóvski são apresentados como paisagens internas, são largos panoramas desérticos, imensos silêncios, uma fremente e budística imobilidade, e assim sabemos quais os materiais de uma angústia cósmica compõem seus puros mobiliários espirituais, podemos viver em eterna lembrança retardatária em suas companhias dissipadas por não conseguirmos mais retirarmos de nós aquelas arquiteturas descomunalmente vazias e absurdamente belas. 

Assim, em Nostalgia, o herói exilado na Itália é uma pradaria russa em que vivem em eterna e inapreensível felicidade a família que deixou para sempre, e uma catedral inacabada com colunas magníficas que sobrepõe ao primeiro ambiente; o professor louco, que mantinha em cárcere privado a esposa e os filhos para protegê-los da fúria do mundo, é uma casa escura e em ruínas, com infinitas goteiras, úmida com água represada por toda parte, com uma porta inútil que abre para o mesmo lugar no meio da sala, e também uma praça na cidade onde ele prega a revolução do alto de um andaime para uma multidão congelada e sem vida. Mesmo os personagens secundários são vestígios de uma partida, a importância que suas simploriedades limitadas revelam em estarem apenas na materialidade do presente é carregada de uma falibilidade fóssil, pois os vemos no continuum temporal em que existiram e desapareceram para sempre, são fímbrias da lembrança, às vezes fagulhas de luz veranica constrangedoramente felizes; é o caso da belíssima mulher que acompanha o herói de Nostalgia, para a qual suas investidas se batem contra a total abstração e desinteresse deste, sua total indiferença às jogatinas sexuais dessa rasa faixa da realidade. Vemos a beleza saudável, plena, exsudante dessa mulher de Botticelli, sua juventude clamorosa, e por um momento pensamos no peso da perda de possibilidades lenitivas que poderia recair sobre o herói; mas então a mulher de Botticelli aparece longamente, o foco em seu rosto angelical cuja tristeza da rejeição é mais um acréscimo à armadilha, e vemos a deterioração acontecendo em sua lentidão irreversível; vemos uma papada incipiente e a ressequidão da pele, as marcas feitas pelo efeito colateral da corrente de tantos pequenos e acumuláveis sofrimentos de se optar em viver no pragmatismo degradante dessa terra; vemos os hormônios e a química intranscedente agindo em seu poder inexorável que corrói sem piedade a lâmina fina da efemeridade encantatória. Tanto que essa mulher, quando desiste com furiosa zombaria do herói, retorna à sua paisagem interna, mostrada em um escritório de alguma repartição pueril, em que um gordo homem de terno sentado a uma mesa passa para um outro burocrata emaciado pela corrupção um maço de dinheiro.

Os ambientes dos filmes de Tarkóvski tem sempre paredes calcinadas, um ar sépia devastador que ressalta a solidão, como se isso tudo fosse um dos efeitos desse sopro salino, radioativo, da verdade. E o impacto é que essa verdade inaudita consegue ser passada para o espectador, no modo como Tarkóvski divide a impossibilidade efetiva de sequer podermos ver os contornos das sombras que ela provoca.

Postagem original aqui.

Neste domingo desterrado do infinito