sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Pulsão de Morte





Estou aqui a rir do inconsciente caráter religioso desse vídeo e da escolha dessa foto como epitáfio a Hitchens. No vídeo, as dezenas de pessoas agradecem, mandam recomendações e bons votos, com uma música sentimental ao fundo. Fazem isso a quem? Ao falecido Hitchens, crentes de que ele, afinal, num paradoxo significativo que nega toda a sua pregação, está escutando do além. Mostram garrafas de whiskey e outros símbolos que sugerem como a gratuidade da existência pode ser usufluida através de uma lúdica devassidão, assim como o já há muito superado Sartre fez com que jovens ateus deixassem de tomar banho e enchessem as caras nos botecos parisienses; e homenageiam Hitchens afirmando com gestos da mais piedosa saudade que ele é quem está no centro dessas oferendas (creio até que, depois das câmeras desligadas, cada um despejou uma dose no chão, dizendo: "essa é para você, hitch.") E a foto pressupõe um Hitchens angelical, olhos claros, cabelos revoltos, muito antes da flacidez e do cinza nada sacramentável da velhice devastada pelo cigarro.

É como o velho e bom Zizék analisa o xamanismo incontornável no gene humano, em A Visão em Paralaxe: os ditos ateus tem suas mentalidades necessitadas de transcendência amparada confortavelmente na determinação daqueles que acreditam. O ateísmo, pois, se não for uma forma de covardia, é uma coragem invertida.
       
O restante da discussão está lá, no blog do Milton Ribeiro:

  http://miltonribeiro.opsblog.org/2011/12/16/muito-obrigado-hitch/#comments                            

Um comentário:

  1. Escrevi um comentário na página do Idelber em http://revistaforum.com.br/idelberavelar/2011/12/16/foi-olo-christopher-hitchens-1949-2011-o-maior-polemista-do-nosso-tempo/ - texto aliás muito muito elogioso, um necrológio contrito. O comentário reedito aqui:

    "Era muito contestável em seus argumentos, que administrava sem muito rigor e, muitas vezes, tentava sepultar opositores em quantidades sem fim de sandices logicamente bem estruturadas, mas de perceptível sabor sofista. Não era burro, porém; preservava, sobretudo, uma ilusão de “independência”, mas a baseava em informações muitas vezes furadas – como no que se refere à Guerra do Iraque. No luta pró-ateísmo, confundia o combate às instituições religiosas com o impulso de caráter indisfarçavelmente religioso que todo ser humano parece possuir, pois sem isso qualquer utopia seria nada além de uma ilusão proteinada. Divertido e irreverente, parece que tem mais admiradores por esses aspectos do que por sua versão de metamorfose ambulante pendente para o ocidentalismo."

    Certamente na época da foto que você pôs aqui Hitch era trotskista.

    Melhor saudação seria simplesmente: "E aí, se fodeu, hem, Hitchens?"

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